domingo, 1 de abril de 2012

O reflexo e a face

  - Vamos, venha comigo, não há o que temer.
 O silêncio ainda se estampava naquela face gélida, porém tão convidativa, cativante me arrisco descrever.
- Prometo que não te deixarei sozinha, estarei sempre ao seu lado, acredite! Agora venha, levante desse chão e junte suas roupas. Mais uma vez a mesma cena se repetiu. Decidido a não desistir ele disse:
- Será que não entende? só existem eu você neste quarto, mais só um de nós pode mudar a cena! Eu posso tentar te convencer mas no final sempre te sigo, seja qual for sua decisão.
Quase em desespero ele resolveu partir para o tratamento de choque e a esbofeteou. Sentiu uma pequena pontada nos dedos e então foi a última sensação...sumiu em cacos pelo chão do quarto.
A mesma face gélida se encontrava um pouquinho menos cativante e mais gélida ainda, então quando finalmente se levantou, disse para os cacos:
- Tudo bem...você venceu, vou me levantar com você. E então juntou os juntou e os colou novamente na parede.

                                                                                                                                                                                                                        

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cegueira, fronteiras e conforto.

Diria que todos nós nos deixamos vendar por pequenos detalhes que querendo ou não, moldam quem somos afinal. Sim, moldar uma personalidade implica em incluir certas opiniões e excluir outras, formando aos poucos aquela que será só sua, e por vezes não formando nenhuma - o que nos leva as incessantes excessões que podem enlouquecer a mente humana - trazendo cada vez mais curvas numa conversa de linha reta, deixemos as loucuras de lado.
O grande problema destes princípios de inclusão e exclusão é que eles muitas vezes nos deixam vendados em relação a alguns aliados e queridos...e aí sim entram as fronteiras.

Fronteiras que deveriam ser amigáveis começam a implicar seu contrário do original. Amigos viram inimigos por não partilharem as mesmas vendas, e os que partilham das mesmas passam de amigos a desencargos, sim, desencargos de consciência que servem para justificar pobremente os novos ideais - fulano acha diferente mas certo ou errado o que importa é que eu não estou sozinho - E aos poucos acabou-se o que era doce.
Cada um em sua trincheira abraça sua verdade, e deixando aos poucos o calor aconchegante da suposta lei do 'estou com a razão' - como se esta fosse palpável -tomar conta dos corações aflitos, seguem seus caminhos com uma velha sensação a qual não conseguem nomear. Mas eu sei. Você sabe. Tudo se torna cômodo e tudo que se  sente é sensação, nada pulsa e nada corrói, tudo é confortável.